O título pode sugerir uma fuga do presente e induzir a pensar que a vocação seja uma realidade utópica. Contudo, recordam-se aqui as palavras de Julián Marías: "o ser humano é futuriço". Isso quer dizer que deve viver o presente projetado para frente, num futuro escatológico e de salvação realizada, mas, sobretudo, num futuro próximo. Todas as nossas ações realizadas conscientemente e movidas pela intenção foram em algum momento um projeto voltado para o futuro. Aquele que decide visitar os pais, por exemplo, pensa que deve ir à casa dos pais e organiza no pensamento como fará isso, antes de a visita acontecer. Claro que projetos desse tipo são vivências simples e que dificilmente alguém se dá conta disso no cotidiano. Quando falamos em vocação, existe também um projeto e que é muito maior.
A vocação, que é chamado de Deus, envolve uma dupla dimensão. Uma é a comunitária, pois Deus deseja salvar um povo que chama de Seu, que é a Igreja. Outra é individual, visto que Ele chama a cada um para fazer parte desse povo. Dentro dessas suas dimensões está a primeira e mais importante vocação, que é o chamado à santidade. Em vista da santidade e da salvação, Deus chama alguns a realizar missões específicas, dentre as quais está a sublime vocação ao ministério ordenado, à qual nos requeremos exclusivamente daqui para frente.
O ministério ordenado é o encontro de dois projetos, o de Deus e o da pessoa que é chamada. Não existe vocação por acaso, mas sim uma proposta da parte de Deus e uma resposta da parte de quem é chamado; realidades que nem sempre se encontram. No caso da vocação, o projeto de Deus, lançado para o futuro, exige a colaboração humana para acontecer e, por isso, exige daquele que é chamado a inclusão desta proposta no seu projeto de vida.
Até aqui não foi dito nada de novo. O que se quer provocar como reflexão e desafio para aquele que se sente chamado ao sacerdócio e para as famílias que acompanham a caminhada dos nossos seminários é a coragem de olhar para o futuro. O futuro do que se está falando é tanto aquele próximo, daquilo que se fará amanhã ou semana que vem, quanto o futuro salvífico, para o qual deve estar orientada a vida do povo de Deus. Olhar para o futuro é considerar na própria vida o projeto de salvação e, dentro desse, colocar o projeto de vida pessoal. É importante saber que sem projeto não existe futuro que não seja um movimento de inércia ou, na linguagem popular brasileira, o famoso "deixa a vida me levar", que na realidade é a via da morte, pois não dá à própria vida, pois não dá à própria vida um sentido.
No tempo atual, de pandemia e de incertezas sobre o futuro da humanidade, a vocação ao ministério ordenado deve ser encarada como um meio poderoso de reavivar a esperança no mundo, e vocês, família e jovem, podem ser protagonistas, sob a ação do Espírito Santo, dessa missão que conduz à salvação, tendo a coragem de romper com a inércia, orientando-se para o futuro com decisão. E a decisão principal é a de buscar unir o projeto de vida pessoal (lembrando que a própria vida obriga a ter um projeto pessoal caso se almeje uma felicidade verdadeira) com o projeto de Deus, que espera ansiosamente uma resposta. O jovem é chamado à vida presbiteral deve buscar responder a Deus na oração e na vivência da fé cotidiana. Já as famílias têm missão de incentivar os jovens, muitas vezes ajudando a apontar o caminho da graça. Por fim vale lembrar que a transformação da humanidade e o norte do caminho certo pode dar-se através do olhar para o futuro, que é tarefa de cada um.
Fonte! Texto de autoria do Pe. Talis Pagot, de novembro de 2020 (Campanha Amigos do Seminário).
Créditos da arte! https://calabriameufuturo.blogspot.com
Esta é uma publicação da PASCOM - Pastoral da Comunicação da Paróquia Santa Hedviges, de Alvorada (RS).
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