Quando se pergunta aos noivos porque querem casar, as respostas costumam variar. No primeiro plano está o “gosto”. Casam porque se gostam. Alguns avançam para mais alto e confessam que se gostam porque se amam. Outros, porém, sem coragem de dizê-lo abertamente, casam para usufruir ou dos bens do outro, ou de sua fama, ou de seu charme. Coisas passageiras. É o casamento em função do status. Outros ainda casam para se verem livres ou da solidão ou do controle dos pais ou tutores. Pergunta-se então sobre o que realmente o matrimônio oferece. Chegamos à questão objetiva. Ela nos preserva de ilusões, evitando que se busque, no matrimônio, o que ele, na realidade, não visa a proporcionar. Quem assim procede em breve sai desiludido. Não foi o que esperava ou procurava.
Objetivamente falando, o matrimônio apresenta quatro objetivos que podemos hierarquizar em quatro graus ascendentes: a satisfação subjetiva, a mútua complementação, a geração e educação de filhos e a configuração a Cristo com sua Igreja.
No primeiro degrau, da satisfação subjetiva, encontra-se o prazer sexual. Os gregos o exprimiam pela palavra “eros”, donde deriva erótico. Infelizmente nossa sociedade associou-lhe um sentido pejorativo. Quando se fala de um filme erótico todos o qualificam de pornográfico. O erótico, porém, não é mau em si. Torna-se negativo somente quando seu uso extrapola sua finalidade. O eros acompanha o ato sexual. Se o ato for correto e moral, o eros constitui como que seu complemento e incentivo necessários. O matrimônio visa ao eros. Proporciona um prazer sexual. Trata-se de uma atração quase irresistível, com que a natureza brinda o casal que decide partilhar mutuamente sua vida. É, pois, em si mesmo, bom e valioso. Dom de Deus para a humanidade, à semelhança do gosto que acompanha a alimentação. Arruína somente quando usufruído fora de medida.
No segundo degrau da finalidade do matrimônio está a mútua complementação. A sexualidade não é individual mas a dois: masculina e feminina. Envolve a pessoa como um todo e a torna essencialmente social. Só se realiza dando cada um o que é seu e recebendo o que é do outro, tanto física como espiritualmente. O eu só se realiza do tu. O desejo constitui a mola da ação. Duas pessoas se unem em matrimônio porque se amam e assim se complementam. O binômio identidade-diferença não coincide com o da igualdade – diversidade.O homem e a mulher são idênticos em humanidade. O que está em questão não é a identidade mas a diferença. Não se pode reduzi-la à diversidade de papéis. Diferença não é diversidade. Não indica relacionamento entre coisas, mas entre pessoas. Um vive para o outro. Os dois convivem. O casamento realiza a identidade de vida a dois.
No terceiro degrau encontramos a geração e educação de filhos. O ser humano tem o direito de ser concebido e educado no seio de uma família, pela unidade corporeoespiritual de dois cônjuges. Não pode aparecer apenas como objeto, quer do desejo, quer do trabalho técnico. Procriar não é reproduzir. Os genitores são procriadores. Apontam para o além, onde se busca a origem da vida. São colaboradores com Deus.
Por isso o quarto degrau da finalidade do matrimônio assemelha o casal a Cristo e à Igreja. Constitui sua espiritualidade. S. Paulo exclama que é grande este mistério. Assim como Cristo ama a Igreja, o marido deve amar sua esposa e assim como a Igreja ama a Cristo a mulher deve amar o esposo. Neste mistério do matrimônio encontra-se a salvação. É a riqueza da graça que torna dois uma só carne, mas em Cristo e sua Igreja.
Fonte! Texto de Dom Dadeus Grings, publicado na coluna "A Voz do Pastor", no Jornal do Comércio de Porto Alegre (RS), na edição do dia 11 de novembro de 2010.
Nenhum comentário:
Postar um comentário